O RouxinolPágina 6 / 9
— Ah!
E levantaram os indicadores e acenaram com as cabeças.
Mas o pobre pescador, que tinha ouvido o verdadeiro rouxinol, afirmou:
— Lá bonito é... e até parece o rouxinol... Mas parece que falta qualquer coisa, não sei bem...
O verdadeiro rouxinol foi banido do reino do imperador.
O pássaro artificial recebeu um lugar especial numa almofada de seda junto da cama do imperador; empilhados à volta estavam todos os presentes que lhe tinham dado, todo o ouro e jóias. Foi distinguido com o título de Principal Trovador Imperial da Mesa-de-Cabeceira, Primeira Classe à Esquerda, porque até os imperadores têm o coração do lado esquerdo. O Mestre da Música Imperial escreveu um solene trabalho em vinte e cinco volumes sobre o pássaro mecânico. Era muito extenso e erudito, cheio das mais difíceis palavras chinesas. Mas toda a gente fingiu que o tinha lido e compreendido. Ninguém queria passar por estúpido!
Tudo isto continuou durante um ano, até que o imperador, a corte e o resto do povo chinês sabiam de cor cada notazinha da canção do passarinho de corda; mas, por isso mesmo, cada vez gostavam mais dela. Podiam cantá-la em coro — e faziam-no.
Os rapazitos da rua andavam por todo o lado a cantar: rrr, trrr, piu, piu, piu, e o imperador também cantava — um som maravilhoso, não havia dúvida.
Mas, uma noite, precisamente quando o pássaro de corda estava a cantar e o imperador, deitado na cama, o ouvia, qualquer coisa fez "crac!" dentro do pássaro. Brrrr! O mecanismo continuou a rodar, e a música parou. O imperador saltou da cama e mandou chamar o seu médico. Mas de que servia o médico? Então foram buscar o relojoeiro, e este, depois de muitas resmungadelas e mexidelas no pássaro, conseguiu arranjá-lo mais ou menos. Mas preveniu toda a gente de que tinha de ser usado muito poucas vezes; as peças estavam quase gastas por completo e não era possível substituí-las sem estragar o som.
Que golpe horrível! Não se atreviam a pôr o pássaro a cantar mais do que uma vez por ano, e mesmo isso já era um risco. Contudo, nessas ocasiões anuais, o Mestre da Música Imperial fazia sempre um discurso cheio de palavras difíceis, dizendo que o pássaro estava tão bom como sempre — e, claro, uma vez que ele dizia que sim, era porque ele estava tão bom como sempre...