O RouxinolPágina 7 / 9
Passaram cinco anos, e uma grande tristeza abateu-se sobre o país. O povo era muito amigo do imperador, mas ele estava gravemente doente e não se esperava que sobrevivesse. Já tinha sido escolhido novo imperador, e a multidão esperava nas ruas que o camareiro lhe desse notícias. Como estava o imperador? O camareiro abanava a cabeça.
Frio e pálido, o imperador jazia no seu leito real. Na verdade, a corte achava que já tinha morrido e foi a correr saudar o seu sucessor. Os criados de quarto foram a correr coscuvilhar uns com os outros e as criadas juntaram-se todas para beberem café,. Tinham sido estendidos panos pretos em todos os salões e corredores para amortecer o som dos passos, de maneira que o palácio parecia muito, muito sossegado.
Mas o imperador ainda não tinha morrido. Pálido e imóvel, jazia na sua magnífica cama com longos cortinados de veludo e pesados cordões dourados. Através de uma janela aberta lá no alto, a Lua brilhava sobre o imperador e o pássaro artificial.
O pobre imperador mal podia respirar; sentia como se tivesse qualquer coisa a pesar-lhe sobre o coração. Abriu os olhos e viu a Morte sentada sobre ele. A Morte tinha a coroa de ouro do imperador na cabeça, numa das mãos segurava a espada imperial de ouro e na outra a esplêndida bandeira imperial. E, por entre os cortinados de veludo, espreitavam estranhos rostos: alguns horríveis e outros belos e bondosos. Eram as boas e as más acções do imperador, que olhavam para ele, enquanto a Morte se sentava sobre o seu coração.
— Lembras-te?... Lembras-te?... — diziam os rostos baixinho, um a seguir ao outro.
E contaram e lembraram tantas coisas que a testa do imperador acabou por ficar coberta de suor.
— Nunca soube... nunca percebi... — gritou ele. — Música, música! Toquem o grande tambor da China! Salvem-me destas vozes!
Mas as vozes não se calavam. Continuavam sempre, enquanto a Morte acenava com a cabeça, como um mandarim, a tudo o que diziam.