O RouxinolPágina 4 / 9
Então, o rouxinol cantou tão bem que o imperador ficou com os olhos cheios de lágrimas, que lhe escorreram pelas faces; e o rouxinol continuou a cantar ainda melhor, de modo que cada nota foi direitinha ao coração do imperador. Este ficou muito satisfeito; o rouxinol, declarou ele, iria receber o seu sapato dourado para usar ao pescoço. Mas este agradeceu e recusou, porque já se sentia recompensado.
— Vi lágrimas nos olhos do imperador. Pode lá haver alguma dádiva maior do que essa? As lágrimas de um imperador têm um poder estranho. Já fui suficientemente recompensado.
E cantou mais uma canção com a sua voz maviosa.
— Muito espirituoso, muito divertido; a criatura é namoradeira — diziam as damas da corte, enchendo as bocas de água para fazerem um ruído de gargarejo.
Por que é que não haviam de ser também rouxinóis? Até os lacaios e as criadas de quarto acenavam, com ar de aprovação, o que significa muito, porque estes são sempre os mais difíceis de contentar. Não havia dúvida: o rouxinol era um êxito.
Ficaria na corte e teria uma gaiola só para si, com autorização para ir apanhar ar duas vezes durante o dia e uma vez à noite. Seria acompanhado, em cada excursão, por doze criados, cada um a segurar firmemente uma fita de seda atada a uma patinha da ave. Não, essas saídas não eram muito divertidas.
Um dia, chegou um grande embrulho para o imperador. Trazia uma palavra escrita por fora: ROUXINOL.
— Olha! Outro livro sobre a nossa famosa ave! — exclamou o imperador.
Mas não era um livro; era um pequeno brinquedo mecânico dentro de una caixa, um rouxinol de corda. Tinha o feitio de um verdadeiro, mas estava coberto de diamantes, rubis e safiras. Quando se lhe dava corda, cantava uma das canções que o verdadeiro passarinho costumava cantar, e a sua cauda andava para baixo e para cima, brilhando em prata e ouro. A volta do pescoço trazia uma fita, onde estava escrito: "O rouxinol do imperador do Japão nada vale comparado com o rouxinol do imperador da China."