O Fato Novo do ImperadorPágina 3 / 5
— Não é um belo tecido? — perguntaram os aldrabões.
E ergueram o tecido imaginário diante dele, apontando para o padrão que não existia.
"Eu acho que não sou estúpido", pensou o funcionário. "Se calhar não sou a pessoa indicada para o cargo que desempenho. Bem, nunca pensaria tal coisa! E o melhor é que ninguém o pense!"
Por isso, emitiu ruídos de apreciação sobre o tecido que não conseguia ver e disse aos homens que gostava muito das cores e do desenho.
— Sim — afirmou ao imperador —, é magnífico.
As notícias sobre aquele tecido fantástico depressa se espalharam pela cidade. E então o imperador decidiu ir vê-lo ainda nos teares. Assim, com alguns servidores cuidadosamente escolhidos — entre os quais os dois honestos funcionários que já lá tinham estado —, foi à sala de tecelagem, onde os malandros faziam as suas palhaçadas, tão activos como sempre.
— Que tecido esplêndido! — exclamou o velho ministro.
— Veja o padrão, majestade! Observe as cores! — disse o outro funcionário.
E apontavam para os teares vazios, porque estavam certos de que as outras pessoas viam o tecido.
"Isto é terrível!", pensou o imperador. "Não vejo nada! Serei estúpido? Serei incompetente como imperador? É assustador pensar uma coisa dessas." Então, disse em voz alta:
— Oh, é encantador, encantador! Tem toda a nossa aprovação!
Acenou com ar satisfeito para os teares vazios; nunca iria admitir que não via lá absolutamente nada.
E os cortesãos que o acompanhavam também olhavam fixamente, todos eles secretamente alarmados por não serem capazes de ver um único fio. Mas, em voz alta, fizeram eco com o imperador:
— Encantador, encantador!
E aconselharam-no a utilizar o esplêndido tecido para o novo fato real que teria de vestir num grande cortejo a realizar dentro em pouco.
— É magnífico e tão fora do vulgar... — era o que se ouvia de todos os lados.