O Fato Novo do ImperadorPágina 4 / 5
E o imperador condecorou os dois impostores com uma roseta para porem nas botoeiras dos casacos e o título de Funcionário Imperial do Tear.
Durante toda a noite anterior ao dia do cortejo, os dois aldrabões fingiram trabalhar, com dezasseis velas à sua volta. Toda a gente podia ver como eles estavam atarefados, tentando acabar a tempo o fato novo do imperador. Fingiam tirar o tecido dos teares, cortavam o ar com grandes tesouras de alfaiate, cosiam e tornavam a coser com agulhas sem linha. Por fim, anunciaram:
— A roupa está pronta!
O imperador foi vê-la com os seus cortesãos mais nobres, e os dois aldrabões ergueram os braços como se estivessem a levantar alguma coisa.
— Aqui estão as calças — disseram eles. — Aqui está o casaco e aqui está a cauda... — e por aí fora. — São leves como espuma; pelo toque, dir-se-ia que não se tem nada vestido, mas a beleza está precisamente aí.
— Sim, claro... — disseram os acompanhantes do imperador, embora continuassem sem ver nada, porque não havia nada para ver.
— Se Vossa Majestade Imperial quiser fazer o favor de tirar a roupa que tem vestida, teremos a honra de o ajudar a vestir esta diante do espelho grande.
O imperador despiu-se e os dois aldrabões fingiram entregar-lhe as roupas novas, uma peça de cada vez. Depois, com os braços à volta da sua cintura, fingiram ajustar a cauda, num toque final.
O imperador virou-se e deu uma volta em frente do espelho.
— Que elegante! Que bem que assenta! — murmuravam os cortesãos. — Que tecido tão rico! Que cores magníficas! Já alguma vez tinham visto uma coisa tão magnífica?
— Majestade — disse o mestre-de-cerimónias —, o dossel já está lá fora.
O dossel cobriria o imperador durante o cortejo.
— Bem — exclamou o imperador —, estou pronto. Assenta realmente muito bem, não acham?
E tornou a dar umas voltas em frente do espelho, como quem se admira pela última vez. Os cortesãos que tinham de pegar na ponta da cauda baixaram-se, como se erguessem alguma coisa do chão, e levantaram as mãos diante de si. Não iam deixar o povo pensar que eles não viam nada.