O Fato Novo do ImperadorPágina 2 / 5
— Já sei! Vou lá mandar o meu velho e honesto ministro! — decidiu. — É o homem indicado, o mais sensato possível, e ninguém pode queixar-se da maneira como desempenha as suas funções.
Então, o bom velho ministro foi à sala onde os dois malandros estavam a fingir que trabalhavam nos teares.
—"Que Deus me ajude!" pensou ele, abrindo os olhos cada vez mais. "Não consigo ver nada."
Mas guardou o pensamento só para si.
Os dois vigaristas pediram-lhe que se aproximasse; não achava ele que os padrões eram lindos e as cores deliciosas? E gesticulavam diante dos teares vazios. Mas, embora o pobre velho ministro espreitasse e olhasse fixamente, continuava a não ver nada, pela simples razão de que não havia lá nada para ver.
"Céus!", pensou. "Serei mesmo estúpido? Nunca pensei que fosse, e o melhor é que ninguém o pense! Serei mesmo incompetente a desempenhar as minhas funções? Não, não posso dizer que não vejo o tecido."
— Então, não o acha admirável? — perguntou um dos falsos tecelões, continuando a mexer as mãos. — Ainda não disse nada!
— Oh, é encantador, perfeitamente maravilhoso — disse o pobre velho ministro, olhando atentamente através dos óculos. — O padrão, as cores... sim, tenho de dizer ao imperador que os acho notáveis.
— Bem, isso é muito animador — disseram os dois tecelões, apontando-lhe os pormenores do padrão e as diferentes cores utilizadas.
O velho ministro ouviu atentamente, de modo a poder repetir tudo ao imperador. E foi o que fez.
Os dois impostores então pediram mais dinheiro e mais fio de sede e de ouro; disseram que precisavam disso para acabarem o tecido. Mas tudo que lhes deram foi direitinho para os seus bolsos e nem um ponto apareceu nos teares. Apesar disso, continuaram a agitar afanosamente os braços diante das máquinas vazias.
Mais tarde, o imperador mandou outro honesto funcionário para ver o andamento do trabalho e saber se o tecido estaria pronto em breve. Aconteceu-lhe a mesma coisa que ao ministro; olhou e tornou a olhar, mas, como não havia nada para ver senão os teares vazios, nada foi tudo o que ele viu.