O gênio da garrafaPágina 1 / 4
Era uma vez um pobre lenhador que trabalhava desde a manhã até a noitefechada. Quando finalmente ele conseguiu juntar um pouco de dinheiro, disseao seu menino:- Você é meu filho único e quero aplicar o meu dinheiro, que ganhei com osuor do meu rosto, na sua instrução. Se você aprender alguma coisa que preste,poderá me sustentar na minha velhice, quando os meus membros estiveremendurecidos e eu tiver de ficar sentado em casa.Então o menino foi para uma boa escola e estudou com afinco, de modoque seus mestres o elogiavam, e ficou algum tempo por ali. Ele terminou umpar de cursos, mas ainda não tinha se formado em tudo, quando aconteceu queo pouco dinheiro que o pai economizara se acabou e ele teve de voltar paracasa.- Aí, - disse o pai, tristonho - não posso dar-lhe mais nada e com estacarestia não consigo tampouco ganhar nem um vintém a mais que para o pãode cada dia.- Querido pai, - respondeu o filho - não se preocupe com isso! Se Deusquiser, tudo terá sido para melhor; eu vou me arranjar.Quando o pai ia sair para a floresta, para ganhar alguma coisa com a lenhapreparada, o filho disse:- Eu quero ir com você e ajudá-lo.- Sim, meu filho - disse o pai. - Mas isto lhe será muito difícil; você não estáacostumado ao trabalho duro e não vai agüentar. Além disso eu não tenhomachado sobrando, e nem dinheiro para poder comprar um novo.- Vá procurar o vizinho - respondeu o filho. - Ele lhe emprestará o seumachado até que eu possa ganhar o bastante para comprar um para mim.Então o pai tomou um machado emprestado do vizinho e no dia seguinte,de manhã cedinho, os dois saíram juntos para a floresta. O filho ajudou o pai,com esforço e animado, sem se cansar.E quando o sol estava a pique sobre eles, o pai falou:- Vamos descansar e almoçar; depois o trabalho rende o dobro.O filho pegou o seu pedaço de pão e disse:
- Descanse, pai, Eu não estou fatigado; quero passear um pouco pelafloresta e procurar ninhos de passarinho.- Ó rapazinho tolo! - disse o pai. -- Para que quer ficar correndo de umlado para outro, só para ficar cansado e depois não poder erguer o braço? Fiqueaqui sentado ao meu lado!Mas o filho se embrenhou na floresta, comeu o seu pão, muito contente, eespiou por entre os galhos a ver se encontrava algum ninho. Assim ele andoude um lado para outro, até que chegou a um grande carvalho, que devia termuitos séculos de idade, e cujo tronco cinco homens não poderiam abraçar. Eleparou, olhou para a árvore e disse:- Aqui muitos pássaros devem ter construído seus ninhos.Mas aí pareceu-lhe de repente ouvir uma voz. Prestou atenção e ouviugritar em tom bastante abafado: “Deixe-me sair! Deixe-me sair!”Olhou em volta e não conseguiu ver nada, mas pareceu-lhe que a voz saíade dentro da terra. Então gritou:- Onde está você?A voz respondeu:- Estou encalhado aqui embaixo, junto das raízes. Deixe-me sair, deixe-mesair!O estudante começou a cavocar debaixo da árvore e a procurar entre asraízes, até que por fim encontrou, num pequeno desvão, uma garrafa de vidro.Levantou-a e segurou-a contra a luz, e então viu lá dentro uma coisa queparecia um sapo, pulando para cima e para baixo.- Deixe-me sair, deixe-me sair! - ouviu de novo. E o garoto, que nãodesconfiava de nada de mau, tirou a rolha da garrafa. Imediatamente escapoudela um gênio, que começou a crescer, e cresceu tão depressa que em poucosinstantes uma figura terrificante, do tamanho da metade da árvore.- Sabe - urrou a aparição com voz aparovante - qual é o seu prêmio porter-me libertado?- Não - respondeu o estudante, sem se assustar.- Como posso saber disso?- Então eu lhe direi - gritou o gênio. - Vou quebrar-lhe o pescoço em trocadisso.- Isto você devia ter-me dito antes - respondeu o estudante. - mas minhacabeça tem de permanecer no lugar!- A recompensa merecida, esta você vai ganhar - gritou o gênio. - Oupensa que foi por benevolência que me deixaram trancado dentro da garrafapor tanto tempo? Não, foi por castigo. Eu sou o poderoso Mercúrius; quem mesoltar terá o pescoço quebrado.