A amoreiraPágina 1 / 2
Terminado o canto foi-se embora, levando a corrente na pata direita e ossapatos na esquerda, e voou para longe, longe, sobre um moinho, e o moinhogirava fazendo clipe clape, clipe clape, clipe clape. E na porta do moinhoestavam sentados os ajudantes do moleiro, que batiam com o martelo na mó:tique taque, tique taque, tique taque; e o moinho girava: clipe clape, clipe clape,clipe clape. Então o pássaro pousou numa tília em frente ao moinho e cantou:
Minha mãe me matou,E um ajudante parou de trabalhar.meu pai me comeu,Outros dois ajudantes pararam de trabalhar para ouvir.minha irmã MarleninhaOutros quatro pararam de trabalhar.meus ossos juntou,num lenço de seda os amarrou,Oito ainda continuavam batendo.debaixo da amoreira Mais outros cinco pararam.os ocultou, Ainda mais um, mais outro. piu, piu, que lindo pássaro sou!
Então o último ajudante também largou o trabalho e pôde ouvir o fim docanto. “Pássaro, como cantas bem! Deixa-me ouvir-te também, canta outra vez.”“Não” disse o pássaro, “não canto de graça duas vezes; dá-me essa mó ecantarei de novo.” “Sim, se fosse só minha eu ta daria.” “Sim” disseram osoutros, “se cantar novamente a terá.” Então o pássaro desceu e os moleirostodos, pegando uma alavanca, suspenderam a mó, dizendo: oop, oop, oop, oop!O pássaro enfiou a cabeça no buraco da mó como se fosse uma coleira; depoisvoltou para a árvore e cantou:
Minha mãe me matou,meu pai me comeu,minha irmã Marleninhameus ossos juntou,num lenço de seda os amarrou,debaixo da amoreira os ocultou, piu, piu, que lindo pássaro sou!
Acabando de cantar abriu as asas, levando na pata direita a corrente deouro, na esquerda o par de sapatos e no pescoço a mó, e foi-se embora voandopara a casa do pai.Na sala estavam o pai, a mãe e Marleninha sentados à mesa; o pai disse:“Ah, que alegria; estou me sentindo tão feliz!” “Oh não” disse a mãe, “eu estoucom medo, assim como quando se anuncia forte tempestade.” Marleninha,sentada em seu lugar, chorava, chorava. Então chegou o pássaro, e quandopousou em cima do telhado o pai disse: “Ah, que alegria! Como o sol brilha láfora! É como se tornasse a ver um velho amigo!” “Ah não” disse a mulher, “eusinto tanto medo, estou batendo os dentes e parece-me ter fogo nas veias.”Assim dizendo tirou o corpete. Marleninha continuava sentada em seu lugar echorava, segurando o avental diante dos olhos e banhando-o de lágrimas. Entãoo pássaro pousou sobre a amoreira e cantou: