A amoreiraPágina 2 / 2
Minha mãe me matou,
e a mãe tapou os ouvidos e fechou os olhos para não ver e não ouvir, maszumbiam-lhe os ouvidos como se fosse o fragor da tempestade e os olhos lheardiam como se fossem tocados pelo raio.
meu pai me comeu,
“Ah mãe” disse o homem, “há aí um pássaro que canta tão bem! E o solestá tão brilhante! E o ar recende a cinamomo.”
minha irmã Marleninha
Então Marleninha inclinou a cabeça nos joelhos e prorrompeu num choroviolento, mas o homem disse: “Vou lá fora, quero ver esse pássaro de perto.”“Não vás, não!” disse a mulher, “parece-me que a casa toda está estremecendo eardendo.” O homem porém saiu.
meus ossos juntou,num lenço de seda os amarrou,debaixo da amoreira os ocultou, piu, piu, que lindo pássaro sou!
Com isso o pássaro deixou cair a corrente de ouro exatamente em volta dopescoço de seu pai, servindo-lhe esta tão bem como se fora feita especialmente
para ele. O homem entrou em casa e disse: “Se visses que lindo pássaro! Deu-me esta bela corrente de ouro, e é tão bonito!” Mas a mulher, transida de medo,caiu estendida no chão, deixando cair a touca da cabeça. E o pássaro cantounovamente:
Minha mãe me matou,
“Ah, se eu pudesse estar mil léguas debaixo da terra para não ouvi-lo!”
meu pai me comeu,
A mulher se debateu, e parecia morta.
minha irmã Marleninha
“Oh” disse Marleninha, “eu também quero ir lá fora; quem sabe se opássaro dá algum presente também a mim!” E saiu.
meus ossos juntou,num lenço de seda os amarrou,e atirou-lhe os sapatos.debaixo da amoreira os ocultou, piu, piu, que lindo pássaro sou!
Marleninha então se sentiu alegre e feliz. Calçou os sapatos vermelhos;pulando e dançando, entrou em casa. “Estava tão triste quando saí e agoraestou tão alegre! Que pássaro maravilhoso! Deu-me um par de sapatosvermelhos.” “Oh não” disse a mulher; ergueu-se de um salto e os cabelos se lheeriçaram como labaredas de fogo. “Parece-me que vai cair o mundo, vou sairtambém, quem sabe não me sentirei melhor?”Quando transpôs a soleira da porta pac! o pássaro lhe atirou na cabeça apesada mó, que a esmigalhou. O pai e Marleninha, ouvindo isso, correram eviram se desprender do solo fogo e fumaça, e quando tudo desapareceu eis quesurge o irmãozinho, estendendo as mãos para o pai e Marleninha; e muitofelizes entraram os três em casa, sentaram-se à mesa e começaram a comer.