A Pastora e o Limpa-chaminésPágina 3 / 5
— Não suporto isto — dizia ela. — Tenho de sair desta gaveta.
Mas, quando chegaram ao chão e olharam para cima da mesa, o velho chinês tinha acordado e estava a abanar o corpo para trás e para a frente; tinha de andar assim, porque, à excepção da cabeça, era todo feito de uma só peça.
— Vem aí o velho chinês! — gritou a pastorinha.
E estava tão aterrorizada que caiu nos seus joelhos de loiça.
— Tenho uma ideia — disse o limpa-chaminés. — Vamos meter-nos ali dentro da grande jarra do canto; podemos esconder-nos entre as rosas e a alfazema e atirar-lhe sal aos olhos se ele se aproximar.
— Isso não ajuda nada — respondeu ela. — Além disso, sei que o velho chinês e a jarra já estiveram noivos; e fica sempre algum sentimento quando as pessoas foram íntimas. Não, a única coisa a fazer é partir à aventura.
— Tens realmente coragem para isso? — perguntou o limpa-chaminés. — Fazes ideia de como é o Mundo? E já pensaste que não podemos voltar para aqui?
— Sim, já pensei nisso — respondeu ela.
O limpa-chaminés deitou-lhe um olhar sério e penetrante e depois disse:
— O único caminho que conheço é pela chaminé. Tens a certeza que possuis a coragem suficiente para ires atrás de mim pelo fogão e pelo túnel escuro? É por aí que se vai para a chaminé, e depois já sei o que fazer. Trepamos tão alto que ninguém nos apanha; e, lá mesmo no cimo, há uma abertura por onde podemos sair para a nossa aventura.
E conduziu-a pela porta do fogão.
— Está muito escuro — exclamou ela.
Mas, apesar disso, foi com ele, através dos tijolos refractários e do cano da chaminé, onde estava escuro como a noite.
— Já chegámos à chaminé — exclamou ele. — Olha! Que linda estrela ali por cima de nós!
Realmente havia uma verdadeira estrela no céu por cima deles, a iluminá-los com o seu brilho, como se quisesse indicar-lhes o caminho. Lá continuaram a trepar e a rastejar, para cima, cada vez mais para cima; foi uma viagem horrível. Mas o pequeno limpa-chaminés ajudava-a sempre, mostrando-lhe os melhores sítios para ela colocar os seus pezinhos de loiça, até que por fim chegaram ao cimo da chaminé, onde se sentaram, porque estavam cansados, o que não admira.