O RouxinolPágina 9 / 9
E cantou e o imperador caiu num sono calmo e reparador.
O Sol brilhava sobre ele através da janela quando acordou, restaurado, desaparecidas a fraqueza e a doença. Nenhum dos criados tinha lá entrado ainda, porque todos pensavam que ele estava morto.
— Tens de ficar sempre comigo — disse o imperador. — Mas só cantas quando quiseres. E, quanto ao pássaro de corda, vou parti-lo em mil bocados.
— Não faças isso — respondeu o rouxinol. — Fez o que pôde por ti. Guarda-o. Eu não posso morar num palácio, mas deixa-me ir e vir à minha vontade, e à noite empoleiro-me neste ramo, junto da tua janela, e canto para ti. Hei-de trazer-te felicidade, mas também pensamentos sérios. Hei-de cantar sobre as pessoas felizes do teu reino, mas também sobre os que se sentem tristes. Cantarei sobre o bem e o mal, que têm estado sempre à nossa volta, mas que têm sempre escondido de ti. Os passarinhos voam em todas as direcções, até ao pescador, à casinha do trabalhador, até junto de tantos que estão longe de ti e da tua corte magnífica. Amo o teu coração mais do que a tua coroa, apesar de a coroa ter algo de mágico. Sim, hei-de voltar, mas tens de me prometer uma coisa.
— O que quiseres! — exclamou o imperador.
Tinha-se levantado e vestido as suas roupas imperiais e segurava a espada dourada junto do coração.
— A única coisa que te peço é isto: não digas a ninguém que tens um amigo passarinho que te conta tudo. É melhor guardar segredo.
E, com estas palavras, o rouxinol voou para longe. Os criados vieram ver o amo morto, mas ficaram ali especados!
— Bom dia! — disse o imperador.