O Barba-Azul (conto do fadas)Página 3 / 5
Tendo notado que a chave do gabinete estava manchada de sangue, limpou-a duas ou três vezes, mas o sangue não desaparecia; lavou-a, esfregou-a com sabão e pedra-pomes; debalde: o sangue ficava sempre, pois a chave era fada, e não havia meio de limpá-la inteiramente: quando se tirava o sangue de um lado, ele voltava do outro.
Barba-Azul regressou de sua viagem logo nessa noite, e disse haver recebido, no caminho, notícias de que o negócio que o levara a partir acabara de realizar-se com vantagem para ele. A mulher fez quanto pôde para se mostrar encantada com esse breve retorno.
No dia seguinte ele pediu-lhe as chaves, e ela as entregou, porém a mão tremia tanto que Barba-Azul adivinhou sem esforço todo o ocorrido.
- Por que é – perguntou-lhe – que a chave do gabinete não está junto com as outras?
- Devo tê-las deixado lá em cima, sobre a minha mesa.
- Quero a chave aqui, já!
Depois de várias delongas, a mulher teve que levá-la. Barba-Azul examinou-a e disse:
- Por que há sangue nesta chave?
- Não sei nada disso – respondeu a pobre criatura, mais pálida que a morte.
- Você não sabe nada – continuou ele – mas eu sei muito bem; você quis entrar no meu gabinete! Está certo, senhora, lá entrará e irá ter o seu lugar ao lado das que lá encontrou.
Ela se atirou aos pés do marido, chorando e pedindo-lhe perdão, com todos os sinais de um arrependimento sincero de não haver sido obediente. Bela e aflita como estava, seria capaz de enternecer um rochedo; mas Barba-Azul tinha o coração mais duro que um rochedo:
- Tem de morrer, senhora, e imediatamente.
- Visto que tenho que morrer – respondeu ela, fitando-o com os olhos banhados de lágrimas – dê-me um pouco de tempo para rezar a Deus.
- Dou-lhe meio quarto de hora – replicou Barba-Azul – e nem um momento a mais.
Quando ela se viu sozinha, chamou a irmã e disse-lhe:
- Minha irmã, sobe ao alto da torre, eu te suplico, para ver se meus irmãos não vêm; eles me prometeram que me viriam ver hoje, e, se os vires, faze-lhes sinal para que se apressem.