João Sem MedoPágina 1 / 6
Havia uma vez um pai que tinha dois filhos, o maior era calmo eprudente, e podia fazer qualquer coisa. Mas o jovem era estúpido e nãoconseguia aprender nem entender nada, e quando o povo o via passar diziam:- Este rapaz dará problemas a seu pai.Quando se tinha que fazer algo, era sempre o maior que tinha que fazer,mas se o pai o mandava trazer algo quando era tarde ou no meio da noite, e ocaminho o conduzia através do cemitério ou algum outro lugar sombrio,reclamava:- Ah, não, pai! não irei, me dá pavor – pois tinha medo.Quando se contavam historias ao redor do fogo que colocava a carne degalinha pra assar, os ouvintes algumas vezes diziam:- Me dá medo!O rapaz se sentava numa canto e escutava os demais, mas não podiaimaginar o que era ter medo:- Sempre dizem: “Me dá medo”, “Me causa pavor”. - pensava - Essa deveser uma habilidade que não compreendo.Ocorreu que o pai lhe disse um dia:- Escuta com atenção, estás ficando grande e forte, e deves aprender algoque te permita ganhar o pão.- Bem, pai - respondeu o jovem - a verdade é que há algo que queroaprender, se se pode ensinar. Gostaria de aprender a ter medo, não entendo detodo o que é isso.O irmão maior sorriu ao escutar aquilo e pensou: “Deus santo, que cabeçade minhoca é esse meu irmão. Nunca servirá para nada.O pai suspirou e respondeu: - logo aprenderás a ter medo, mas não se vivedisso.Pouco depois o sacristão foi à casa de João, em visita, e o pai lhe contouque seu filho menor estava tão atrasado em qualquer coisa que não sabia nemaprendia nada. - Veja – disse o pai - quando perguntei como ia ganhar a vida,me disse que queria aprender a ter medo.- Se isso é tudo. - respondeu o sacristão - pode aprender comigo. Mande-oa mim.
O pai estava contente de enviar seu filho com o sacristão porque pensavaque aquilo serviria para endireitar João. Então o sacristão tomou ao rapaz sobsua guarda em sua casa e tinha que tocar o sino da igreja. Um dia o sacristãoacordou à meia-noite, e o fez levantar para ir À torre da igreja tocar o sino.“Logo aprenderás o que é ter medo” pensava o sacristão. E, sem que Joãose desse conta, levantou-se e subiu na torre. Quando o rapaz estava no alto datorre, e foi dar a volta para pegar a corda do sino e viu uma figura branca de pé,nas escadas do outro lado do poço da torre.- Quem está aí?- gritou o rapaz, mas a figura não respondeu nem semoveu.- Responde, - gritou o rapaz - o saia. Não perdeste nada aqui.O sacristão, sem dúvida, continuou de pé, imóvel, para que João pensasseser um fantasma. O rapaz gritou a segunda vez:- Que fazes aqui?. Diz o que queres ou te tirarei pelas escadas.O sacristão pensou que era onda de João e continuou paradão, quieto,como uma estátua. Então o rapaz avisou a terceira vez e como não serviu denada, se jogou contra ele e empurrou o fantasma escada abaixo. O”fantasma”rodou dez degraus e caiu num canto. Então João fez soar o sino e se foi paracasa e, sem dizer nada, voltou a dormir. A esposa do sacristão ficou esperandoseu marido um bom tempo, mas ele não voltou. Ela ficou inquieta e acordou João.Perguntou:- Sabes onde está meu marido? Subiu na torre antes de ti.- Não sei - respondeu o rapaz - Mas alguém estava de pé no outro lado dopoço da torre, e como não me respondia nem se ia, achei que era um ladrão e o joguei das escadas.A mulher saiu correndo e encontrou seu marido queixando-se no canto,um uma perna machucada. Depois de ajudá-lo, ela, chorando, foi ver o pai dorapaz.- Teu filho- gritava ela – causou um desastre. Jogou meu marido pelasescadas e quebrou-lhe a perna. Leva esse inútil de nossa casa.O pai estava aterrado e correu ao rapaz pra saber o que houve: - Queconversa foi essa?- Pai, - respondeu – escuta. Sou inocente. Ele estava ali, de pé, no meio danoite, como se fosse fazer algo mau. Não sabia quem era e pedi que falasse portrês vezes. -Ah!- disse o pai - só me trazes desgosto. Sai da minha frente, nãoquero te ver mais.